Tuesday, November 22, 2005

Para ser um bom comunista - por Santos Mercado




Algo importante eu aprendi do recente colóquio internacional que se realizou na UNAM e na Universidade do López Obrador. Todos os que assistiram como expositores (na faixa de 50) gabaram-se de serem comunistas, porém nenhum deles deu uma definição exata desta corrente de pensamento.

Acertaram sim em dizer que o comunismo é uma corrente anti-capitalista. Mas como também não têm uma definição precisa do quê é o capitalismo, o discurso ficou em sermões de “luta perdida”. Nem sequer perceberam que no mundo atual o comunismo domina mais que o capitalismo.

Aquele que mais se aproximou ao conceito foi o filósofo Adolfo Sánchez Vázquez quem se sente orgulhoso de que aos seus noventa anos continua sendo comunista. Sánchez Vázquez disse que uniu-se às fileiras dessa corrente sem ter a menor consciência do que era; simplesmente queria mudar a realidade. Bom, essa experiência a tivemos muitos.

Hoje, depois de mais de 50 anos educando os jovens da UNAM na teoria marxista, disse que há que definir o comunismo como o sistema onde somente há propriedade social.
Eu teria gostado se ele fosse francamente explícito. Eu teria agradecido seu discurso se tivesse dito aos comunistas que ainda o adoram que o comunismo significa o desaparecimento total dessa instituição chamada “propriedade privada”. Eu teria aplaudido se houvesse dito que o ideal dele consistia em que as pessoas ou o indivíduo comum teriam de rejeitar a idéia de serem os donos da casa que habitam; que não deveriam sonhar com negócios, empresas ou algo que dê lucro. Isto é falar claro, sem rodeios.
O filósofo espanhol teria feito um grande serviço aos jovens da UNAM e de todos os seus seguidores se lhes houvesse dado as regras para serem bons comunistas. Como o grande mestre não deu essas regras aos jovens... Eu vou ajudá-lo um pouquinho.
Para ser um bom comunista:
1. Deve-se entender perfeitamente que o comunismo é o sistema econômico e político que tem como base a abolição da propriedade privada. Nenhum indivíduo deve ter o direito de dizer “isto é meu, posso vendê-lo, dá-lo de presente, alugá-lo ou destruir”. Por isso o comunismo é contrário ao capitalismo, onde os indivíduos têm o direito de possuir propriedades.
2. Deve ser congruente com a sua doutrina em todos os aspectos da vida, em todo tempo e lugar. Por exemplo, só deve estudar em escolas de governo e se alimentar em refeitórios públicos.
3. Nenhum comunista deve possuir propriedade alguma. Não deve ser dono de casas, nem carros, nem dos sapatos que usa.
4. Não deve comprar nem vender nada, pois a prática do comércio é próprio do capitalismo, não do comunismo.
5. Tudo o que um comunista usar deve ser obtido pela expropriação, roubo, furto, despojo ou por ajuda do líder. Não deve ser trabalhador assalariado, pois significa aceitar a existência dos mercados de trabalho.
6. Devem obedecer cegamente as órdens do líder ou do Estado a quem deve considerar, sem réplica, como uma espécie de Deus onisciente e onipotente. Jamais deve questionar as ordens do seu chefe imediato, pois se pensa que obedece ao lider. O esquema político deve ser vertical.
7. Deve ler cuidadosa e insistentemente os neoliberais, quer dizer, os que defendem o sistema contrário (capitalismo), a fim de não incorrer em gafes que contribuam com o sentido oposto. Isto quer dizer que em um braço deve carregar o Manifesto do Partido Comunista de Marx e no outro a Ação Humana de Ludwig von Mises.
8. Deve fomentar o seqüestro de empresários e comerciantes e se possível, eliminá-los, a não ser que virem comunistas. O dinheiro obtido do seqüestro deve ser queimado, pois é a expressão pura do capitalismo.
9. Devem queimar ou destruir os negócios, empresas ou automóveis que forem propriedade privada de alguém (como hoje se faz na França). Assim estará obedecendo o postulado marxista de anulação de propriedade privada.
10. Um bom comunista não deve andar promovendo a democracia, pois isso pode quebrar o plano central do governo. Em outras palavras, jamais deve permitir a existência de dois ou mais partidos, porque isso pareceria “mercado político”. Uma incongruência inaceitável. Quem pretender ter poder paralelo ao líder, tem que ser eliminado.
11. Deve-se promover a estatização de tudo (educação, saúde, eletricidade, banco, jornais, terras, empresas, etc.) para que unicamente o Estado seja o grande administrador dos recursos que tem um país.
Finalmente,
12. Devem convencer as massas, quer dizer, a todo o povão para que se deixe governar por um só líder, que se privará do sono para garantir trabalho, saúde, alimento, educação e residência. Este líder garantirá, se todos obedecerem, a alegria e felicidade que os homens nunca conseguirão a partir do trabalho pessoal.
Estas são as regras básicas que poderia ter ensinado o filósofo comunista Adolfo Sánchez Vázquez. Tenho apenas uma pergunta: o que tão congruente foi o professor com estes princípios comunistas?


***


Sobre o autor


Santos Mercado Reyes, mexicano nascido em 1950 foi um ativo marxista na sua juventude. Organizava camponeses, sindicatos, greves, etc. logo fica desencantado dos resultados e abandona as fileiras da esquerda. Temporariamente funda um negócio que foi todo um êxito e decide voltar à sua profissão de matemático. Torna-se mestre em economia matemática, conseguindo um doutorado em sistemas financeiros, outro em economia da educação e descobre, por causalidade, à Escola Austríaca de Economia. É feito conselheiro acadêmico do Instituto Cultural Ludwig von Mises, funda o Seminário Milton Friedman.

Organiza cursos de liberalismo econômico no México e em Cuba; funda o Seminário Friedrich von Hayek. É promotor da reforma educativa com base à eliminação do monopólio estatal da educação. Atualmente é professor na Universidade Autônoma Metropolitana e realiza uma investigação doutoral sobre a pobreza no campo mexicano pela Universidade Autônoma de Chapingo. É um ativo promotor do liberalismo econômico e escrever artigos sobre educação, pobreza e assuntos monetários.

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