Wednesday, December 07, 2005

Ele tinha oitenta e um anos...


"...dois de setembro de 1973, Londres.
J.R.R. Tolkien, lingüista, estudioso e autor
de sucesso, faleceu hoje em Bournemouth.
Ele tinha oitenta e um anos..."

The Sunday Times


Criador de um Mundo:
John Ronald Reuel Tolkien lançou um encanto sobre dezenas de milhares de americanos nos anos sessenta com a sua trilogia de 500.000 palavras, O Senhor dos Anéis, em essência uma fantasia de guerra entre o bem definitivo e o mal definitivo. Criando o complexo, mas consistente mundo da Terra-média, completo com mapas elaborados, Tolkien povoou com hobbits, elfos, anões, homens, magos, ents, orcs e outros servos do Senhor do Escuro, Sauron. Em particular descreveu as aventuras de um hobbit, Frodo filho de Drogo, que se tornou o Portador do Anel e a figura chave na destruição da Torre Escura. Como Gandalf, o mago, comentou, havia mais nele do que os olhos percebiam.

A história pode ser lida em muitos níveis. Mas o autor, um estudioso e lingüista, por 39 anos professor, negou enfaticamente que seja uma alegoria. O Anel, descoberto pelo tio de Frodo, Bilbo Baggins, em um livro anterior, O Hobbit, tem o poder para tornar quem o usa invisível, mas é infinitamente mal. Admiradores de Tolkien o compararam favoravelmente com Milton, Spenser e Tolstoy. O seu editor inglês, Sir Stanley Unwin, especulou que O Senhor dos Anéis viveria muito mais do que qualquer outro de seus trabalhos.


Literatura Escapista:
Porém detratores, entre eles o crítico Edmund Wilson, rotularam O Senhor dos Anéis como um "livro de crianças que de alguma maneira saiu de mão". Um crítico Observador de Londres o condenou em 1961 como "literatura completamente escapista, estúpida, mal-escrita e fantasiosa" e expressou o desejo de que o trabalho de Tolkien passasse logo para o "olvido misericordioso".

Porém não foi assim. Após apenas quatro anos foram impressos em brochura pelas editoras Ballantine e Ace Livros um quarto de um milhão de cópias da trilogia. No final dos anos sessenta brotaram por toda parte na América fãs clubes, tais como a Sociedade Tolkien da América, e membros desta sociedades, muitos deles estudantes, decoraram as suas paredes com os mapas da Terra-média. A trilogia também foi publicada em capa dura por Houghton Mifflin e foi o Livro-do-Mês da Club Selection. O criador deste trabalho monumental, controverso (ou sub-criador como Tolkien preferiu chamar os escritores de fantasia) era uma autoridade em Anglo-Saxão e Inglês Medieval. Ele era um homem gentil, de olhos azuis, de aparência cavalheiresca que preferia roupas de lã, fumava um cachimbo e gostava de dar passeios e andar em uma velha bicicleta (embora tenha comprado um carro bastante elegante com o sucesso de seus livros).

De 1925 a 1959 Tolkien foi professor em Oxford, ultimamente Professor em Merton de Língua e Literatura Inglesa e um associado da Faculdade Merton. Tolkien estava um pouco espantado e confuso pela aclamação que a sua fantasia extracurricular recebia – além das muitas nas interpretações que diversamente chamavam esta de uma grande alegoria Cristã, a última obra-prima literária da Idade Média, e um jogo filológico. Porém, Tolkien manteve que esta não era planejada como uma alegoria. "Eu não gosto de alegorias... nunca gostei de Hans Christian Andersen porque sabia que ele estava sempre desviando a minha atenção" ele disse.

A trilogia foi escrita – recordou - para ilustrar uma conferência de 1938 na Universidade de Glasgow sobre contos de fadas. Ele admitiu que contos de fadas eram algo de escapista, mas não viu por que não deveria haver uma escapatória do mundo de fábricas, armas e bombas. Era alegria – disse - que era a marca do verdadeiro conto de fadas: "Entretanto selvagem em seus eventos, porém fantástica ou terrível nas aventuras, pode dar a criança ou homem que a ouvem, quando a 'reviravolta' chega, uma captura da respiração, uma batida e uma elevação do coração, próximas a (ou realmente acompanhadas por) lágrimas, tão incisiva quanto aquela determinada por qualquer forma de arte literária, e tendo uma qualidade peculiar”.

A sua própria fantasia havia começado quando estava corrigindo trabalhos de exames escolares, e um dia aconteceu de rascunhar no topo de uma das muitas folhas semi-rasuradas: "em um buraco no chão vivia um hobbit". Então hobbits começaram a tomar forma. Eles eram, ele decidiu, "um povo pequeno, menor que os anões barbudos. Hobbits não têm nenhuma barba, há pouca ou nenhuma magia acerca deles, exceto o caráter cotidiano comum que os ajuda a desaparecer quieta e rapidamente quando o estúpido povo grande como você e eu chega por perto com seu jeito desajeitado, fazendo um ruído como de elefantes o qual eles podem ouvir uma milha de distância. Eles são inclinados a serem gordos no estômago; se vestem em cores vivas (principalmente verde e amarelo); não usam nenhum sapato, porque os seus pés cultivam solas duras naturais e pelos castanhos e espessos parecidos com os da cabeça (que é cacheado); têm dedos longos morenos e espertos, faces agradáveis e riem risos profundos e frutuosos (especialmente depois do jantar, que têm duas vezes por dia quando podem)."


Descobrindo a Inglaterra:
Tolkien fixou estes inocentes protegidos em uma terra chamado Condado, moldado à maneira da zona rural Inglesa que havia descoberto quando era uma criança de 4 anos, recém chegada do seu local de nascimento na África do Sul. Tolkien enviou alguns deles em aventuras perigosas, porém, a maioria concebeu como amigáveis e laboriosos, mas ligeiramente tolos, que ocasionaram o seu rabisco naquele papel de exame fortuito. Tolkien disse uma vez que: "se você realmente quer saber no que a Terra-média é baseada, é a minha maravilha e o meu encanto na terra como esta é, particularmente a terra natural”. A sua trilogia foi preenchida com seu conhecimento de botânica e geologia.

O autor nasceu em Blomfontein, em 3 de Janeiro de 1892, filho de Arthur Reuel Tolkien, gerente de banco, e Mabel Suffield Tolkien que tinha servido como missionária em Zanzibar. Ambos os pais tinham vindo de Birmingham, e quando o pai do menino morreu, a mãe levou a ele e seu irmão para casa nas Midlands... zonas rurais inglesas. A Inglaterra parecia para ele "uma árvore de Natal" depois da esterilidade da África, onde ele tinha sido picado por uma tarântula, e onde ele foi "seqüestrado" temporariamente por um empregado negro que quis exibi-lo em sua aldeia. Foi bom, depois disso, estar em um lugar confortável onde as pessoas viviam "comprimidas longe de todos os centros de distúrbio".

Ao mesmo tempo Tolkien mencionou em uma composição sobre contos de fadas: "eu ansiava por dragões com um desejo profundo. Mas é claro que, em meu corpo tímido, não desejei que eles estivessem nas vizinhanças, penetrando em meu mundo relativamente seguro”.

Sua mãe foi a primeira professora, e o seu amor de filologia, como também o desejo para com a aventura foi atribuído a influência materna. Mas em 1904 Mabel Tolkien morreu. Os Tolkiens foram convertidos ao Catolicismo, e ele e seu irmão se tornaram os pupilos de um padre em Birmingham. (Alguns críticos mantiveram que a desolação da Birmingham industrial foi a inspiração para a terra maligna do Inimigo da sua trilogia, Mordor.)


A serviço na Primeira Guerra Mundial:
O jovem Tolkien freqüentou a Escola de Gramática King Edward's e foi para Faculdade Exeter, Oxford, por bolsa de estudos. Ele recebeu o seu B.A. em 1915. Mas a Primeira Guerra Mundial tinha começado, e, aos 23 anos ele começou o serviço nos Fuzileiros de Lancashire. Um ano depois se casou Edith Bratt. Foi dito pelos seus amigos que a guerra o havia afetado profundamente. O escritor C. S. Lewis insistiu que isto era refletido em alguns dos aspectos mais sinistros de suas histórias e na alegria dos seus heróis em camaradagem. O regimento de Tolkien sofreu baixas pesadas e quando a guerra terminou, apenas um de todos os seus amigos mais íntimos ainda estava vivo.

Retirado dos Fuzileiros por Invalidez, Tolkien decidiu no hospital que o estudo de idiomas seria a sua profissão. Ele retornou a Oxford para receber o seu M.A. em 1919, e para trabalhar como um assistente no New English Dictonary. Dois anos depois começou sua carreira como professor na Universidade de Leeds. Dentro de quatro anos, ele era um professor e publicou um "vocabulário de inglês medieval" e uma edição (com E. V. Gordon) de "Sir. Gawain e o Cavalheiro Verde". Pouco depois recebeu um convite de Oxford onde suas conferências sobre filologia lhe deram uma reputação extraordinária.

Seus alunos se lembram dele como se empenhando muito para interessá-los. Uma delas recordava que havia algo do hobbit a respeito de Tolkien. Ele caminhava - ela disse - "como se apoiado em pés peludos e tinha uma jovialidade atraente”. Enquanto isso, uma vez ele havia rabiscado naquela prova as primeiras palavras do que viria se tornar O Hobbit, a curiosidade sobre hobbits estava provocada, e o livro sobre estas pequenas criaturas - precursor do mais sério O Senhor dos Anéis - começou a nascer. Estes livro foi nutrido através de reuniões semanais com os seus amigos e colegas, inclusive o filósofo e novelista C. S. Lewis e o irmão dele, W. H. Lewis, e o novelista místico Charles Williams. Os Inklings, como eles próprios se chamavam, reunidos na Faculdade Magdalen ou num bar para beber cerveja e compartilhar manuscritos um do outro.

C. S. Lewis ouviu e refletiu muito sobre O Hobbit, que Tolkien começou a escrever em 1937 (e contou aos seus filhos), para sugerir que ele submetesse este para publicação a George Allen e Unwin, Ltd. Este foi aceito, e a edição americana ganhou um prêmio do Herald Tribune como o melhor livro para crianças. O autor sempre insistiu, porém, que nem O Hobbit nem O Senhor dos Anéis eram tencionados para crianças: “não é sequer muito bom para crianças - ele disse - eu escrevi algo deste livro em um estilo para crianças, mas isso é o que elas abominam. Se eu não tivesse feito isso, entretanto, as pessoas teriam pensado que eu era um tolo”.

"Se você é um homem bastante jovem - falou para um repórter de Londres - e não quer que riam de você, você diz que você está escrevendo para crianças. O Senhor dos Anéis - ele admitiu - começou como um exercício em estética lingüística, como também uma ilustração da sua teoria sobre contos de fadas. Então a própria história o capturou”.


Levou 14 anos para escrever:
Em 1954 A Sociedade do Anel, o primeiro volume da trilogia, finalmente surgiu. O segundo volume, As Duas Torres, e o terceiro, O Retorno do Rei, eram a continuações da mesma obra. O trabalho que tem um apêndice de 104 páginas levou 14 anos para ser escrito, está cheio com piadas verbais, alfabetos estranhos, nomes do Escandinavo, Anglo-saxão e Galês. Por sua história, este invoca, entre outros, a lenda de O Anel dos Nibelungos, e o antigo Clássico Escandinavo, Edda.

Enquanto isso, Tolkien também estava ocupado com escritas eruditas que incluíam Beowulf, o Monstro e os Críticos e outros trabalhos filológicos menos famosos. Depois da aposentadoria, Tolkien viveu no subúrbio de Oxford de Headington "trabalhando como o diabo - ele disse - motivado para retomar a sua escritura sobre um mito da Criação e Queda chamado O Silmarillion, que ele tinha começado até mesmo antes da sua trilogia. Como ele disse em uma entrevista alguns anos atrás: "uma caneta é para mim como um bico é para uma galinha".

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